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sábado, 20 de outubro de 2018
Para Ouvir e Anunciar a Palavra de Deus - Subsídio para Lição Bíblica CPAD - 4º Trimestre/2018
Para Ouvir e Anunciar a Palavra de Deus - Subsídio para Lição Bíblica CPAD - 4º Trimestre/2018
Ao dedicarmos uma maior atenção ao estudo da Parábola do Semeador, logo percebemos a necessidade de esclarecer algumas dificuldades na interpretação da referida parábola. Ela, sem dúvida alguma está entre as mais conhecidas, tem um papel fundamental nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), mas é considerada pelos eruditos uma parábola difícil.[1] Partiremos das observações feitas por Snodgrass, para analisarmos tais dificuldades.
1 – Em Marcos 4.10-12 temos uma fundamentação bíblica para a dupla predestinação, conforme ensina o calvinismo?
Em Marcos 4.10-12 lemos:
Quando se achou só, os que estavam ao redor dele, com os doze, interrogaram-no acerca da parábola. E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados.
Em primeiro lugar, é necessário considerar a citação feita ao texto de Isaías 6.9, 10 em Marcos 4.12. Ao profetizar para os seus contemporâneos, a pregação de Isaías faria com que os seus corações se endurecessem mais ainda contra o Senhor. Não é Deus que procura se opor à conversão e ao arrependimento, mas as próprias pessoas com uma resistência obstinada.
Os que ficam de fora, para quem a parábola permanece um mistério, e assim produzindo a impossibilidade de arrependimento e conversão, são os que não possuem a boa vontade em ouvir e obedecer a mensagem de Jesus. Tal realidade é encontrada também em Mateus 11.25,26; Lucas 10.21-22; 19.41,42. Em resumo:
Nenhuma dessas passagens nem Marcos estão tratando de alguma espécie de “endurecimento divino” e, seguramente, não estamos falando de ideias acerca da predestinação. A ênfase está colocada na responsabilidade humana e na boa vontade em ouvir e não reproduzir o modelo da recusa de Israel em ouvir os mensageiros de Deus (cf. 12.1-12). As pessoas se colocam do lado de dentro ou de fora de acordo com a resposta que dão à mensagem e a sua posição não está permanentemente determinada.[2]
O efeito da Palavra depende de quem a ouve. Qualquer pessoa pode se voltar para Deus, dessa forma não existe um grupo para quem foi concedido e outro para quem não foi.[3] O semeador deve plantar indiscriminadamente, mas os ouvintes devem assegurar-se de serem solo fértil, capaz de receber e cultivar a semente, que é a Palavra de Deus.[4] Para Pohl:
Naturalmente, a palavra de Isaías a princípio é dura. Mas de forma alguma ela ensina que uma parte dos ouvintes da pregação está condenada aleatoriamente, sem motivo. Isaías não está pregando a páginas em branco, mas a um povo obtuso como um boi ou um jumento (Is 1.3).”[5]
Na nota de rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal, sobre Marcos 4.3 lemos: “A conversão e a frutificação espiritual dependem de como a pessoa se porta ante a Palavra de Deus (v. 14; cf. Jo 15.1-10).”[6] A qualidade da terra decide sobre o rendimento da semente.[7] A resposta humana diante da graça preveniente de Deus é o fator aqui descrito na parábola.
Contra a ideia de que uma misteriosa vontade de Deus teria destinado uma parte da humanidade à perdição (teoria do endurecimento)[8], em linha com as Sagradas Escrituras, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma:
[...] Por conseguinte, a salvação está disponível a todos os que creem. Sim, todos nós, sem exceção, podemos ser salvos através dos méritos de Jesus Cristo, pois todos nós fomos criados à imagem de Deus. O Soberano Deus não predestinou incondicionalmente pessoal alguma à condenação eterna, mas, sim, almeja que todos, arrependendo-se, convertam-se de seus maus caminhos.[9] (Tt 2.11; At 17.30)
O propósito das parábolas de Jesus é sempre o de esclarecer, tornar compreensiva a mensagem do Evangelho, gerando assim oportunidade de transformação espiritual, mental e comportamental, ou seja, realizar uma mudança integral no homem integral.
2 – Como compreender culturalmente a semeadura descrita na parábola?
Uma dificuldade no aspecto cultural encontrado na Parábola do Semeador se relacionado ao modo como a semeadura é narrada no texto. Aos olhos das técnicas e práticas agrícolas modernas, o semeador parece ser um pouco negligente ou desleixado. Tal dificuldade cultural é explicada, entendendo-se que o procedimento descrito na parábola era normal, onde a semeadura precedia a aradura:
[...] a semeadura é feita com mais frequência antes da aradura, salvo no caso da semeadura tardia, na qual ocasionalmente, a aradura é feita tanto antes como depois da semeadura. [...] em qualquer caso, depois da semeadura a semente é arada para dentro do solo.[10]
Rienecker comenta que:
Poderíamos, agora, criticar o semeador por ter semeado com pouca destreza, porque tantos grãos se perderam. É preciso saber que na Palestina se semeia antes de lavrar. O semeador da parábola, portanto, caminha pelo terreno não lavrado. Intencionalmente semeia sobre o caminho que os moradores da aldeia pisaram no chão, porque o caminho será lavrado também. De propósito a semente é lançada entre os espinhos, porque também eles serão tombados. Tampouco causa estranheza que as sementes caiam sobre rochedos, pois a rocha ficará visível sob a fina crosta de terra somente depois que a lâmina do arado a arranhar. Desse modo desfaz-se a crítica da inabilidade do semeador, porque o método de trabalho do oriental é diferente da do europeu.[11]
Ainda se argumenta que não se sabe se a aradura vinha antes nesse caso da Parábola do Semeador, e não se deu ênfase na narrativa a esse aspecto. Não há detalhes desnecessários nas parábolas.[12] Ainda contribuindo com o entendimento da narrativa:
Um agricultor não semearia de modo intencional em um caminho; entretanto, ocasionalmente, algumas sementes poderiam cair ao longo dele. O fato de algumas sementes terem caído junto aos espinhos poderia significar que a semente foi semeada no meio de espinheiros ressecados do ano interior que serão arados para baixo da terra, ou poderia simplesmente ser uma forma breve de expressar que a semente foi semeada em um campo arado onde os espinhos posteriormente crescerão. Nenhuma tentativa foi feita para explicar o motivo por que os pássaros comeram somente as sementes que caíram à beira do caminho, e não as semeadas no campo, mas se, como indicam as evidências, a pessoa que arava vinha logo após a que semeava, a semente no campo teria sido coberta antes de os pássaros poderem tê-la alcançado. No fim das contas, entretanto, essas perguntas não são importantes para a compreensão da parábola.[13]
Em minhas pesquisas, somente MacArthur fala do campo arado antes do plantio naquele contexto.[14]
Com as explicações aqui colocadas, passa-se a compreender melhor os aspectos culturais da semeadura, para assim caminharmos no sentido de interpretar a parábola, e aplica-la à nossa realidade.
3 – A Interpretação da Parábola do Semeador
O semeador aponta para o próprio Jesus, podendo também ser aplicado ao Espírito Santo e a todos os cristãos, que devem ser prudentes, orando por oportunidades e lugares para semear com diligência, perseverança, semeando a tempo e fora de tempo, consagrado, cordial e ousado.[15]
A semente é a Palavra de Deus, a mensagem do evangelho, pura em sua essência, e sem a necessidade de métodos ou apelos bizarros em sua proclamação. Sobre isso MacArthur escreve:
Os evangélicos adotam constantemente todo o tipo de métodos bizarros e não bíblicos, porque acreditam que conseguem assim provocar uma reação melhor nos corações endurecidos, superficiais e mundanos. Alguns alteram a semente ou fabricam semente sintética. Tentam atualizar a mensagem, amenizam o escândalo da cruz, deixam as partes difíceis ou impopulares para lá. Muitos simplesmente substituem o evangelho por uma mensagem completamente diferente.[16]
Apesar de existir semente estragada, adulterada e imprópria para o plantio, ela deve ser descartada. A tarefa de um agricultor inicia com a escolha da semente e o cuidado com a sua qualidade.[17]
É óbvio que existem métodos de evangelização nos dias atuais, que em razão dos recursos tecnológicos modernos não se encontram na Bíblia, como por exemplo usar as redes sociais, mas o princípio se encontra. Pode se falar hoje de uma semeadura online, sem negligenciar a semeadura presencial.
A ênfase da parábola está nos tipos de solo onde cai a semente. Para Snodgrass: “A única variável que determina o sucesso ou fracasso está na terra sobre a qual a semente cai. [...] A ênfase precisa recair sobre a receptividade e as condições do solo [...] A parábola dá ênfase tanto a receptividade quanto à geração de fruto”.[18]
Conforme Lockyer:
Os diferentes solos a que a parábola chama a atenção, são os traços que se destacam. A atenção é focalizada não no semeador ou na sua semente, mas no solo e sua reação à semente plantada. [...] A semente plantada nos quatro solos foi a mesma; mas que enorme diferença de resultados. Isso é a chave da parábola, e é assim “porque trata compreensivelmente da verdade fundamental, qual seja a proclamação do evangelho aos pecadores.[19]
A compreensão correta na ênfase da parábola, que recai sobre os solos (os ouvintes), nos leva para algumas considerações finais.
Na condição de semeadores, tudo que precisamos fazer é semear, considerando a postura esperada de um semeador já citada acima. Está acima do poder do semeador fazer a semente brotar e dar fruto. O único objetivo do semeador é semear a semente genuína, deixando o Espírito Santo fazer o seu trabalho nos ouvintes receptivos.
A mensagem do Evangelho, apesar das indiferenças e oposições, sempre encontrará, em todas as épocas e lugares alguém disposto a recebê-la. Não devemos nos desanimar com os aparentes insucessos ou fracassos, nem nos responsabilizarmos por eles, na medida em que cumprimos na direção e no poder do Espírito, e segundo as Escrituras, a nossa missão.
[1] SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as Parábolas de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 219-220.
[2] Ibid., p. 244.
[3] STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. São Paulo: Atos, 2008, p. 73-74.
[4] ADEYEMO, Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p. 1164.
[5] POHOL, Adolf. Evangelho de Marcos: Comentário Esperança. Curitiba-PR: Esperança, 1998, p. 157.
[6] Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 1468.
[7] BRAKEMEIER, Gottfried. As parábolas de Jesus: Imagens do Reino de Deus. São Leopoldo: Sinodal, 2016, p. 50.
[8] POHL, Adolf. Ibid.,p. 154.
[9] Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 2. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 110.
[10] SNODGRASS, Klyne. Ibid., p. 249.
[11] RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus: Comentário Esperança. Curitiba-PR: Esperança, 1998, p. 217.
[12] SONODGRASS, Klyne. Ibid.
[13] Ibid.
[14] MACARTHUR, John. As parábolas de Jesus. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2018, 45.
[15] LOCKYER, Herbert. Ibid., p. 196
[16] MACARTHUR, John. Ibid., p. 55.
[17] BRAKEMEIER, Gottfried. Ibid., p.55.
[18] SNODGRASS, Klyne. Ibid., p. 252, 261.
[19] LOCKYER, Herbert. Ibid., p. 198-199
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