sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

1º Trimestre de 2015 Lição 7 15 de fevereiro de 2015 LIÇÃO 7: Horarás Pai e Mãe
TEXTO ÁUREO "Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor." (Cl 3.20) VERDADE PRÁTICA Honrar pai e mãe vai além da simples obediência; implica amar e respeitar de forma elevada, demonstrando espírito de consideração. LEITURA DIÁRIA Segunda - Gn 2.24 Deixar pai e mãe não significa abandoná-los S Terça - Êx 21.15-17 A sanção da lei é implacável para quem ferir ou amaldiçoar os pais T Quarta - Pv 1.8 Honrar pai e mãe significa também acatar os seus ensinos e instruções Q Quinta - Pv 23.22 É honroso para o filho cuidar dos pais na velhice deles Q Sexta - Zc 12.1 Os pais são instrumentos de Deus para nos trazer à existência S Sábado - Mt 15.4 O Senhor Jesus reafirma a origem divina do quinto mandamento S LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Êxodo 20.12; Ef 6.1-3; Marcos 7.10-13 Êxodo 20.12 Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá. Efésios 6.1-3 1 Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. 2 Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, 3 para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. Marcos 7.10-13 10 Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe e: Quem maldisser ou o pai ou a mãe deve ser punido com a morte. 11 Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor, 12 nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, 13 invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas. OBJETIVO GERAL Estimular um profundo respeito aos pais e às mães, não somente de palavras, mas de obras de amor e carinho. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Após esta aula, o aluno deverá estar apto a: Abaixo, os objetivos específicos referem-se aos que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos. I. Mostrar que "honrar pai e mãe" é o primeiro mandamento do Decálogo que se refere ao relacionamento com o próximo. II. Destacar que, na família, os pais representam a Deus. III. Apontar que, segundo as Escrituras, os filhos devem aos pais o respeito, a atenção e a devida obediência. IV. Conscientizar os alunos de que os filhos têm responsabilidades econômicas com os pais. Preciso de sua ajuda para continuar escrevendo os subsídios. Se você tem sido ajudado semanalmente com estes comentários, e deseja que eles permaneçam sendo disponibilizados, clique aqui e saiba como ajudar: Mantenha este Blog! COMENTÁRIO INTRODUÇÃO O quinto mandamento era originalmente uma ponte entre as obrigações do israelita com Deus e as do israelita com seu próximo, e liga os quatro primeiros mandamentos aos cinco seguintes. Oito dos dez mandamentos do Decálogo são proibições e dois são positivos, o quarto e o quinto. Temos aqui o segundo mandamento apresentado em fórmula positiva. [Comentário: "honra":1. Sentimento do dever, da dignidade e da justiça; Conjunto de ações e qualidades que fazem com que alguém seja respeitado = DIGNIDADE, HONRADEZ, PROBIDADE, RETIDÃO; Distinção que resulta de ações ou qualidades que nobilitam; Manifestação de apreço ou de homenagem a alguém = DISTINÇÃO, GRAÇA, MERCÊ, PRIVILÉGIO. Honrar seu pai e mãe é demonstrado através de palavras e ações que surgem de uma atitude interior de estima e respeito pela posição que ocupam. A palavra grega para honra significa reverenciar, estimar e valorizar. Honrar é dar respeito não apenas pelo mérito, mas pela posição. Todas as ações humanas estão alicerçadas na obediência aos pais, é na família que se aprende esse valor que cimenta toda a sociedade É tão vital que Deus incluiu esse princípio nos 10 mandamentos (Êx 20.12) e novamente no Novo Testamento: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef 6.1-3). Durante a época do Velho Testamento, falar mal contra os pais ou rebelar-se contra as suas instruções resultava em punição capital (Êx 21.15-17; Mt 15.14). Note-se, ainda, que esta é uma marca distintiva daqueles com uma “mente corrompida” e que não agradam a Deus nos últimos dias (Rm 1.30; 2Tm 3.2). Honrar traz consigo a ideia de dar glória a alguém. 1Co 10.31 nos diz que qualquer coisa que façamos deve ser feita para a glória de Deus. Devemos procurar honrar nossos pais da mesma forma que Cristãos tentam trazer glória a Deus – em nossos pensamentos, palavras e ações. Note o que diz Eugene H. Merrill em sua obra ‘Teologia do Antigo Testamento’ (Shedd Publicações); “O primeiro dos seis últimos mandamentos toca diretamente em um ponto teológico muitíssimo relevante em torno do qual gira boa parte da nossa abordagem, e este é a inter-relação inerente à criação e à ordem da criação (Êx 20.12). Deus, como Criador, é soberano, mas ele escolheu executar seu governo por intermédio da humanidade. Contudo, há esferas de soberania na humanidade, pessoas ou instituições que, por natureza ou indicação, são designadas para exercer senhorio benemérito sobre outros. Isso começa na esfera do casamento e da família, matéria de que tratamos de passagem. O modelo do Antigo Testamento é claramente patriarcal, mas não patriarcal ditatorial. Conforme observaremos, muitas estipulações da aliança que regulamentam o comportamento dos filhos exigem que eles tratem pai e mãe exatamente da mesma maneira”. Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 334.] Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras! I. O QUINTO MANDAMENTO 1. Os pais biológicos. O propósito divino aqui é a sustentabilidade da estrutura familiar e a santificação da ordem social. Os pais são representantes de Deus na família; honrá-los e temê-los significa fazer o mesmo em relação a Deus. São eles que geram os filhos e são responsáveis pelo bem-estar deles, pelo seu sustento, alimentação, vestes, saúde e educação. Não existe na vida alguém mais importante para o filho do que o pai e a mãe, pois eles são seus heróis. Esse relacionamento é semelhante ao de Javé com o seu povo Israel (Dt 1.31; Ml 1.6). [Comentário: Os termos mãe e pai veem do Latim mater e pater, equivalentes ao grego, pater, palavra relacionada à raiz que significa «nutridor» ou «protetor». A palavra hebraica correspondente à mãe é ’em; e no grego é meter. O Rev. Hernandes Dias Lopes escreve em sua obra ‘MALAQUIAS A Igreja no tribunal de Deus’ (Editora Hagnos): Malaquias inicia essa mensagem fazendo uma declaração indiscutível: “O filho honra o pai e o servo ao seu Senhor” (1.6). Assim, ele conquista a atenção dos sacerdotes antes de acusá-los.51 A primeira relação envolve afeição e a segunda respeito. Mas os sacerdotes não demonstraram amor nem respeito a Deus. Desde o início, Deus tratou Israel como um filho amado, tirando-o do Egito, dando-lhe uma herança, proteção, revelação sobrenatural e missão especial. Não obstante Israel ser o filho primogênito de Deus (Êx 4.22), ele tornou-se um filho ingrato (Os 11.1) e rebelde (Is 1.2). Malaquias, também, acusa Israel de uma ingratidão inegável. Como foi que Israel retribuiu ao Senhor Seu amor gracioso? Do amor de Deus, o profeta volta-se para a ingratidão do povo. Deus o tratou como filho, mas Israel não o honrou como pai. Não houve honra nem respeito a Deus. LOPES. Hernandes Dias. MALAQUIAS A Igreja no tribunal de Deus. Editora Hagnos.] 2. Os pais espirituais. A expressão "o teu pai e a tua mãe" se aplica também aos pais espirituais, que devem ser honrados e respeitados pelos filhos na fé. Isso é visto na lei (2 Rs 2.12; 13.14) e na graça (1 Tm 1.2; 2 Tm 1.2; 2.1; Tt 1.4). A figura do governante também se assemelha à dos pais; veja como Débora se considera mãe de Israel (Jz 5.7). Assim, o mandamento abrange as autoridades espirituais e civis, que devemos respeitar. [Comentário: O pai espiritual pode ser o pastor, líder, ou pessoa mais madura na fé. O tempo não cura ferida gerada por problemas de paternidade. Eliseu falou de Elias de forma muito honrável, mostrando o motivo de tanto lamentar sua ausência. Ele próprio tinha perdido o guia de sua mocidade: Meu pai, meu pai. Ele viu sua própria condição como a da criança sem pai atirada ao mundo, e lamentou isto da forma adequada. Quando Cristo deixou seus discípulos, não os deixou órfãos (Jo 14.15), mas Elias teve que fazê-lo.] 3. Os pais intelectuais. O respeito e a honra se devem também a quem se destaca pelo conhecimento em qualquer área. Isso é visto no Faraó que constituiu José como primeiro ministro do Egito (Gn 45.8). Isso deve servir como exemplo nas igrejas atuais. Muitos cristãos hoje precisam aprender a lição desse Faraó. Em qualquer lugar em que chegarmos, iremos sempre encontrar alguém melhor do que nós em alguma área, e devemos ter humildade suficiente para reconhecer essa autoridade. [Comentário: O quinto mandamento se aplica também ao relacionamento secular, pois a figura do governante se assemelha à de um pai. Débora se considera mãe de Israel (Jz 5.7). O respeito e a honra se devem também a quem se destaca pelo conhecimento em qualquer área. Embora Faraó fosse a maior autoridade no Egito, ele honrou e respeitou um escravo hebreu simplesmente porque este tinha o conhecimento da vontade de Deus: "senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa" (Gn 45.8). O rei do Egito nos dá o exemplo mesmo séculos antes da promulgação da lei. Isso deve servir como exemplo hoje nas igrejas. Esse respeito e essa consideração não se restringem apenas aos membros da Igreja e a seu pastor, mas vale também entre os próprios pares e companheiros de ministério. A hierarquia, portanto, é esta: Deus, os pais e as autoridades eclesiásticas e civis. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 80-81.] PONTO CENTRAL Todos os seres humanos devem respeito, obediência e atenção aos seus pais. Esta é a vontade de Deus. SÍNTESE DO TÓPICO I O quinto mandamento revela a sustentabilidade divina da estrutura familiar e da ordem social. CONHEÇA MAIS A Constituição do Núcleo Familiar no AT "A constituição do núcleo familiar a priori foi composta por um homem e uma mulher. Mais tarde, acrescentou-se ao casal os filhos gerados dessa união. A partir do nascimento dos primeiros, a família se tornou o primeiro sistema social no qual o ser humano é inserido." Leia mais em A Família no Antigo Testamento, CPAD, pp.23-36 II. OBEDIÊNCIA 1. O verbo honrar. Honrar pai e mãe é mandamento divino, e não sugestão humana (Êx 20.12; Dt 5.16; Mt 15.4). O verbo honrar, kaved, é um imperativo intensivo hebraico, do qual vem o substantivo kavod, "honra, glória". A raiz desse verbo aparece em todas as línguas semíticas, com exceção do aramaico, e o significado é de "ser pesado", sentido figurado, cuja ideia é de ser importante (Nm 22.15). É usado no Antigo Testamento com vários significados. Um deles diz respeito ao temor, ao reconhecimento, responsabilidade e autoridade; em nosso contexto, refere-se a alguém merecedor de respeito, atenção e obediência (Lv 19.3). [Comentário: A honra é o alto respeito ou estima mostrada a uma outra pessoa ou recebida dela, ou ainda uma demonstração de tal respeito. O conceito é expresso figurativamente no AT por palavras que também são traduzidas como beleza, majestade, talento, preciosidade, valor e glória. Os paralelos são significativos: glória e honra (1 Cr 16.27; SI 8.5); glória e majestade (SI 21.5; 96.6; 104.1); honra e distinção (Et 6.3); dádivas, prêmios e grandes honras (Dn 2.6); riquezas e glória (1 Rs 3.13). Dessa forma, o conceito insere-se na adoração (q.v.), que é o reconhecimento do valor. O próprio Deus merece toda a honra: o reconhecimento daquilo que Ele é, e a atribuição do louvor que lhe é devido. Deus também pode fazer com que os homens sejam reconhecidos pelos outros: "Deus deu riquezas, fazenda e honra" (Ec 6.2). Ele ordenou que fosse mostrado respeito aos pais (Êx 20.12) e aos mais velhos (Lv 19.32). Uma esposa virtuosa merece a estima de seu marido (Pv 31.25; 11.16; 1 Pe 3.7). Aqueles que honram a Deus serão por sua vez honrados (1 Sm 2.30). O homem que persegue a justiça e a lealdade da aliança encontrará a honra (Pv 21.21). Uma sugestão para o motivo pelo qual Deus restaura a honra aos homens de modo redentor é dada no Salmo 8.5: Deus fez o homem um pouco menor do que os anjos. O homem mais representativo, o Senhor Jesus, coroado com glória e honra por seu sofrimento de morte, traz a redenção e a glória final para os seus redimidos (veja Hb 2.5-10). A honra, como um subproduto da sabedoria e da piedade, é associada à vida no sentido de que só poderia encontrar seu cumprimento em uma imortalidade abençoada (Pv 3.16; 8.18; 21.21; 22.4; cf. Rm 2.7,10). No NT grego, palavras significando valor e glória são traduzidos como honra. Os valores éticos estão em perspectiva. A honra descreve de forma majestosa a aprovação e a estima mútua entre o Pai e o Filho (2 Pe 1.17; Hb 2.9; Jo 8.49,54). A honra em glória redentora é concedida por Deus aos homens (Rm 2.10; 1 Pe 1.7; Jo 12.26). Os homens e os anjos dão glória e honra a Deus (1 Tm 1.17; Ap 4.9; 19.1) e a Cristo (Jo 5.23; Ap 5.12ss.). Os homens devem buscar a honra ou a aprovação que vem de Deus ao invés da aprovação dos homens (Jo 12.43). Entretanto, não devemos negar a honra que é devida aos outros (Rm 12.10): aos pais (Mt 15.4), às viúvas (1 Tm 5.3), aos mestres (1 Tm 6.1), e ao rei (1 Pe 2.17). O casamento, também, deve ser honrado por todos (Hb 13.4). PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 936.] 2. Filho adulto. A ordem divina é para os adultos; não se restringe à infância e adolescência. Não importa o estado civil ou o status social, todos devem respeitar e reverenciar de coração os pais. Em nenhum lugar da Bíblia ensina que essa ordem seja somente para crianças e adolescentes. Quando o moço e a moça chegam à maioridade, ou mesmo se casam, seus pais continuarão sendo os seus genitores e os filhos devem honrá-los e respeitá-los. [Comentário: Salomão, o homem mais sábio que já existiu, encorajou os filhos a respeitarem seus pais (Pv 1.8; 13.1; 30.17). Apesar de que talvez não estejamos mais sob sua autoridade, não podemos ignorar o comando de Deus de honrar nossos pais. Até Jesus, Deus Filho, submeteu-se aos Seu pais terrenos e ao seu Pai Celestial (Mt 26.39; Lc 2.51). Ao seguir o exemplo de Cristo, como Cristãos devemos tratar nossos pais da mesma forma reverencial com a qual nos aproximaríamos de nosso Pai Celestial (Hb 12.9; Ml 1.6).] 3. À luz da exegese. O termo grego usado em Efésios para "filhos" é tekna, plural de teknon; que indica descendente imediato sem especificar sexo ou idade. Aparece cinco vezes nesta epístola: "filhos da ira" (2.3); "filhos amados" (5.1); "filhos da luz" (5.8). Somente 6.4 sugere criança ou adolescente. Em 6.1 parece ambíguo; seria precipitação aplicar esse ensino apenas às crianças e adolescentes. O verbo "obedecer" está na voz ativa, mostrando que se trata de pessoas moralmente livres para assumir uma responsabilidade diante de Deus (Ef 6.1). [Comentário: A palavra «...obedecei...», no original grego, é «upakouo», que quer dizer «obedecer», «seguir», «estar sujeito a». Fica subentendido que aquilo que aos filhos é ordenado, seja justo, moral, correto, visando o desenvolvimento espiritual da criança, ou simplesmente apropriado para a vida e a conduta diárias. Seu trecho paralelo, de Cl 3.20, acrescenta «em tudo». Mas tudo deve estar sujeito à mesma condição de justiça, incluindo até mesmo questões indiferentes, atinentes à vida diária, que não têm conteúdo «certo» ou «errado». O pai da família deve assumir a «direção» do lar, tanto nas coisas importantes como nas incidentais. Mas, ao assim fazer, o pai deve manter uma atitude razoável, a fim de não alienar de si os seus filhos, satisfazendo os desejos razoáveis dos filhos o tanto que lhe for possível, para que seja reputado como gentil e cheio de consideração por eles, que dessa maneira o amarão e respeitarão, sujeitando-se naturalmente à sua autoridade, não querendo subjugá-los pelo temor ou pelo mero senso de obrigação. Devemos notar que, em Rm 1.30, a desobediência aos pais é nomeada entre os pecados sérios dos povos pagãos, que são reprovados por Deus. E a própria natureza nos ensina a conveniência dos mais jovens e menos experientes se sujeitarem aos mais velhos, que já têm bastante experiência de vida, em suas exigências e inúmeras situações. Outrossim, dos pais crentes se espera que entendam as implicações espirituais da necessidade de obediência, para que assim exerçam a devida autoridade sobre seus filhos. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 635.] SÍNTESE DO TÓPICO II A Bíblia declara que "honrar pai e mãe" é mandamento divino, não sugestão humana. III. SUSTENTO 1. Cuidado. O sentido de deixar pai e mãe quando se casa (Gn 2.24) é a construção de um novo lar, e não o abandono dos pais. Deus é justo e retribuirá tudo o que o filho fizer com o pai e com a mãe. Quem age dessa forma está semeando para o seu próprio futuro, pois colherá isso na velhice. Há inúmeros exemplos no Antigo Testamento da responsabilidade do filho em cuidar do sustento dos pais (Gn 47.12; Js 2.13,18; 6.23; 1Sm 22.3). O Senhor Jesus citou e viveu este mandamento (Mt 15.4, 5; 19.19; Mc 7.10-12; Lc 2.51). [Comentário: Honrar pai e mãe é muito abrangente e envolve cuidar dos pais, principalmente na velhice: "Ouve a teu pai, que te gerou, e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer” (Pv 23.22). O termo "filho meu", frequentemente empregado em Provérbios, em geral se aponta para o aconselhamento de um mestre a seus discípulos, mas aqui ambos são mencionados, pai e mãe, referindo-se, portanto, aos pais naturais. O quinto mandamento vai além do sustento dos pais na velhice. É dever dos filhos proteger os pais, a sanção da lei é dura contra os que descumprem o quinto mandamento: "O que ferir a seu pai ou a sua mãe certamente morrerá... E quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe certamente morrerá" (Êx 21.15, 17). O v. 15 fala sobre violência fisica, e o v. 17, que é reiterado mais adiante de forma expandida (Lv 20.9), vai além do desprezo e do abandono. Amaldiçoar aqui significa depreciar e repudiar a autoridade dos pais. Além da agressão e do menosprezo em relação aos progenitores, a lei estabelecia a pena capital para o filho desobediente, o rebelde contumaz (Dt 21.18-21). Qualquer atitude de desonra era um grave insulto, e a punição da lei era a mesma para ambos os casos: agressão física e moral, violência e desrespeito. Por isso, a lei impõe respeito e honra aos pais (Êx 20.12; Dt 5.16). Desonrar a pai e mãe é desonrar a Deus. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 63.] 2. Oferta Corbã. O termo "corbã", korban, é aramaico e significa literalmente "sacrifício", mas o contexto aqui é algo muito triste. Trata-se de um artifício para fugir "legalmente" do compromisso de sustentar pai e mãe na velhice. O filho podia ser absolvido dessa responsabilidade se fizesse uma promessa de doação em dinheiro destinada ao Templo (Mc 7.11,12). Era uma desculpa para não ajudar os pais, pois se consagrava a Deus tudo o que possuía. Assim, ele dizia aos pais que não podia oferecer ajuda nem fazer nada por eles porque tudo já estava comprometido diante de Deus. [Comentário: Corbã (a transliteração do hebraico é “Qorban”) é uma palavra hebraica que significa “Sacrifício”, “oferta”, “oblação”. Literalmente, descreve aquilo que é levado para junto do altar (do verbo qarab). Matthew henry explica o seguinte: “E fácil deduzir que é dever dos filhos, se os pais são pobres, ajudá-los, conforme a sua capacidade; e se os filhos que maldizem os seus pais merecem a morte, muito mais a merecem aqueles que não os sustentam. Se alguém estivesse de acordo com todos os pontos da tradição dos anciãos, eles descobririam um expediente pelo qual ele poderia ser liberado dessa obrigação (v. 11). Se os pais estivessem em necessidade, e o filho tivesse os recursos necessários para ajudá-los, mas não tivesse a intenção de fazer isso, ele poderia jurar pelo Corbã, ou seja, pelo “ouro do templo”, e pela “oferta que está sobre o altar”, e assim os seus pais não seriam beneficiados por ele; esse filho não os ajudaria. E, se eles lhe pedissem qualquer coisa, bastava que ele lhes respondesse isso, e seria suficiente. Como se pela obrigação desse juramento iníquo alguém pudesse se liberar da obrigação imposta pela santa lei de Deus. Observe a interpretação do Dr. Hammond: Um antigo cânone dos rabinos diz que os juramentos devem acontecer com referência a coisas ordenadas pela lei, e também a coisas indiferentes, para que, se alguém fizer um juramento (ou um voto) que não possa ser ratificado sem infringir um mandamento, o juramento seja ratificado, e o mandamento violado. Esta opinião está de acordo com a interpretação do Dr. Whitby. Os papistas ensinam uma doutrina como essa, isentando os filhos de qualquer obrigação para com os seus pais, por meio dos seus juramentos (ou votos) monásticos, e da sua admissão à religião, como eles os chamam. O Senhor Jesus conclui: “E muitas coisas fazeis semelhantes a estas”. Onde os homens irão parar, quando tiverem feito com que a Palavra de Deus dê lugar às suas tradições? Esses que avidamente impunham tais cerimônias, no início somente menosprezavam os mandamentos de Deus em comparação com as suas tradições; mas, posteriormente, anulavam os mandamentos de Deus, se estes entrassem em conflito com as suas tradições. Tudo isso, na verdade, Isaías tinha profetizado; aquilo que ele dizia sobre os hipócritas na sua época, aplicava-se também aos escribas e fariseus (v. 6). Observe que quando vemos a iniquidade dos tempos atuais, e reclamamos dela, se dissermos que os dias passados foram melhores do que estes, estaremos mostrando que não investigamos esse assunto mais a fundo (Ec 7.10). O pior dos hipócritas e malfeitores já teve os seus predecessores”. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 441.] 3. Ensino de Jesus. Deus não exige esse tipo de oferta de ninguém em sua Palavra, por isso o Senhor Jesus foi contundente com as autoridades religiosas de Israel. Essa doutrina dos fariseus era uma afronta a Deus e à sua Palavra (Mc 7.13). Eles violavam a lei sob um manto de santidade, exibindo uma religiosidade externa e falsa. Ninguém precisa sacrificar a família pela causa do evangelho. Quem cuida do pai e da mãe já está fazendo a obra de Deus; o cuidado da família deve ser prioritário, só depois é que vem a Igreja (1 Tm 5.8). Esse é o pensamento cristão, que muitas vezes, infelizmente, é invertido entre nós. [Comentário: A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (CPAD), traz o seguinte: “Mc 7.13. O voto Corbã colocava efetivamente a tradição acima da Palavra de Deus. Ser capaz de se isentar de um dos mandamentos de Deus, adotando um voto humano, significava que os fariseus estavam invalidando a Palavra de Deus. Jesus acrescentou que os fariseus faziam muitas e muitas coisas como essa. E esse era apenas um exemplo da premeditada mesquinhez desses líderes religiosos que se colocavam acima de todas as pessoas, mas que, de fato, destruíam as leis que tinham tanto orgulho de parecer obedecer. Nesse exemplo, Jesus deixou claro a esses líderes religiosos hipócritas que a lei de Deus, e não a tradição oral, deveria ser a verdadeira autoridade na vida das pessoas”. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 234.] SÍNTESE DO TÓPICO III Os filhos não podem se esconder das suas responsabilidades para com os seus pais. IV. ENTRE A LEI E A GRAÇA 1. Autoridade dos pais. Honrar e respeitar pai e mãe é um ensinamento que ocupa um lugar de elevada consideração na Bíblia. Desobedecer aos pais é desobedecer a Deus, pois estão investidos de autoridade divina sobre a vida dos filhos e receberam de Deus a responsabilidade pelo bem-estar deles. A observação "porque isto é justo" (Ef 6.1) ou "porque isto é correto", como diz outra tradução (NTLH), significa tratar-se de uma lei natural que existe desde o princípio do mundo. Deus já havia colocado a sua lei no coração de todos os homens, mesmo antes de se revelar a Moisés no Sinai (Rm 1.19; 2.14,15). Essa norma existe em todas as civilizações antes e depois de Moisés, e foi dada a Israel como revelação e mandamento divinos (Mt 15.4). [Comentário: Os judeus colocam o quinto mandamento como dever do homem para com Deus. Os mandamentos de caráter vertical, do compromisso do israelita com Deus, de amar a Deus acima de todas as coisas, de acordo com o ensino de Jesus, são teológicos e estão registrados na primeira tábua; os outros são de caráter horizontal, são preceitos éticos que constam da segunda tábua, resumidos no segundo mandamento de amar o próximo como a si mesmo. Esta é a interpretação judaica. Esta linha de pensamento mostra a relevância de honrar os pais, os quais são representantes de Deus. Honrar pai e mãe ocupa um lugar de elevada consideração na lei porque a autoridade deles foi delegada por Deus. Desobedecer a eles, portanto, é desobedecer a Deus, pois eles estão investidos de autoridade sobre a vida e receberam a responsabilidade do bem-estar dos filhos. O apóstolo Paulo ensina obedecer aos pais e explica, "porque isto é justo" (Ef 6.1). Ele está falando a respeito de uma lei natural que existe desde o princípio do mundo. Deus já havia colocado a sua lei no coração de todos os homens, mesmo antes de se revelar a Moisés no Sinai (Rm 1.19; 2.14, 15). Essa prática existe em todas as civilizações antes e depois de Moisés. Todos esses povos já reconheciam a importância de obedecer e respeitar aos pais como fundamento para uma sociedade estável. Sua inobservância sinaliza a decadência da estrutura social. Infelizmente, o que se vê na atualidade é inversão desses valores; os pais estão perdendo o direito de opinar e decidir sobre a vida dos filhos adolescentes por imposição até do Estado. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 81.] 2. O sistema mosaico. A promessa aos filhos que honram e obedecem aos pais, descrita no Decálogo, é a longevidade: "para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá" (Êx 20.12). A passagem paralela de Deuteronômio acrescenta o sucesso econômico: "para que te vá bem" (Dt 5.16). Temos aqui uma prova incontestável de que originalmente este mandamento era exclusividade de Israel, pois fala sobre herdar a terra de Canaã. [Comentário: Os quatro primeiros mandamentos da lei mosaica tratam dos deveres do homem para com Deus. Os últimos seis, tratam dos relacionamentos humanos. Por isso mesmo, as tábuas do testemunho, onde tinham sido inscritos os mandamentos, eram duas. Essas duas tábuas da lei incorporavam todas as atitudes apropriadas aos seres humanos. Honrar aos próprios progenitores não somente é uma forma de piedade do mais alto calibre, como também é uma regra social de suprema importância, pois os conflitos domésticos naturalmente têm reflexos sobre a sociedade como um todo. Visto que os pais atuam como representantes de Deus, ocupando o lugar de Deus no seio da família, este quinto mandamento, na realidade, é uma aplicação dos dois primeiros mandamentos. Assim, honrar a Yahweh implica em honrar aos pais. A solidariedade familiar jamais poderá tomar-se um fato nos lugares onde houver filhos desobedientes, que tentem impingir sua voluntariedade às expensas dos pais. Dentro do contexto hebreu, honrar os próprios pais era uma parte vital da existência, tão vital quanto a respiração. Um filho que ousasse ferir seus pais sofria a pena de morte (Êx 21.15). Idêntico castigo cabia a quem amaldiçoasse qualquer de seus pais (Êx 21.17). Somente os zombadores insensatos rejeitariam esse princípio de respeito pelos próprios pais, e o fim deles é triste (Pro. 30.17). Paulo reitera esse mandamento em Efésios 6.1-3. Todavia, o apóstolo também frisou sabiamente a responsabilidade dos pais para com seus filhos (vs. 4). E lembrou que o quinto mandamento é o primeiro mandamento que envolve uma promessa, ou seja, que os filhos obedientes serão abençoados com uma vida longa e feliz (Ef 6.3). Nesse ponto, Paulo citou o trecho de Deuteronômio 5.16. A punição capital (ver a esse respeito no Dicionário) era imposta no caso de quatro crimes, mencionados em Êx 21.12-17 (que vide). Entre esses queremos destacar aqui a quebra do sexto mandamento (o homicídio; Êx 21.12,14) e a quebra do quinto mandamento (os abusos contra os pais; Êx 21.17). Entre certas tribos indígenas do Rio Negro, no estado do Amazonas, Brasil, somente dois atos são tidos como aquilo que chamamos de pecados, ou seja, atos errados: abusar de qualquer modo da própria mãe e furtar. Entre eles, esses atos são considerados piores do que o homicídio, o qual, entre eles, é tão comum que deixou de ser censurado. Assim sendo, o código de ética daqueles indígenas incorpora somente o quinto e o oitavo mandamentos do decálogo mosaico. Aristóteles pensava que as relações entre filho e progenitor são análogas àquelas que existem entre o homem e Deus (Ethics, Nic. vii.12 par.5). O confucionismo alicerça toda a sua moralidade sobre as relações entre pais e filhos. Os egípcios enfatizavam a questão a ponto de ameaçarem a uma má vida pós-túmulo aos filhos que fossem desobedientes a seus pais (apud Lenormant, Histoire Ancienne, vs. 1, pág. 343 s.). Interessante é notar que se os egípcios prometiam uma boa vida pós-túmulo aos filhos obedientes, o código mosaico só prometia uma boa vida neste mundo, uma vida longa e abençoada, mas nenhuma promessa de vida pós-túmulo, o que é típico no Pentateuco. Se existem alguns indícios sobre uma vida para além da morte biológica (como na doutrina do homem como partícipe da imagem divina; Gên. 1.26,27), essa doutrina só passou a ser destacada formalmente, no Antigo Testamento, nos Salmos e nos Profetas. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 392.] 3. Adaptado sob a graça. O apóstolo Paulo deliberadamente combina as palavras do quinto mandamento em ambos os textos do Decálogo, Êxodo e Deuteronômio: "Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra" (Ef 6.2,3). Aqui, a Terra Prometida não é citada nem especificada como no Decálogo: "que te dá o SENHOR, teu Deus". A Igreja, o povo de Deus do novo concerto, não tem terra para herdar, pois a nossa herança é o céu (Fp 3.20). Somos uma congregação de estrangeiros e peregrinos no mundo (1 Pe 2.11). [Comentário: Nós vivemos essas coisas como resultado da nossa nova vida em Cristo e não por coerção da lei, que condena à morte os filhos rebeldes (Êx 21.15,17; Lv 20.9; Dt 21.18-21). O cristão está debaixo da graça e é guiado pelo Espírito Santo para as boas obras que "Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10). Cabe a cada um de nós não desperdiçarmos o privilégio e a oportunidade de honrar pai e mãe para não perdermos as bênçãos de Deus. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 85.] SÍNTESE DO TÓPICO IV Dentro da perspectiva da graça, o quinto mandamento tem o mesmo valor que os outros. Uma lei que existe desde que o mundo existe. CONCLUSÃO O quinto mandamento é de fundamental importância para conservar uma sociedade estável. Todavia, o cristão o observa como resultado da sua nova vida em Cristo, e não por coerção da lei, que condena à morte os filhos rebeldes (Êx 21.15,17; Lv 20.9; Dt 21.18-21), pois na graça somos guiados pelo Espírito Santo para as boas obras que Deus preparou para andarmos nelas. Não desperdice, portanto, o privilégio e a oportunidade de honrar seu pai e sua mãe, para não perder as bênçãos de Deus. [Comentário: “Ao honrarmos os nossos pais estamos honrando a autoridade do Deus Todo-Poderoso, na medida que isto é delegado ao homem. O quinto mandamento realmente trata a respeito da atitude do homem para com a autoridade outorgada por Deus. A mais antiga e básica forma desta autoridade é aquela manifestada através da paternidade. Ao honrarmos os nossos pais nós estamos nos submetendo ao Senhor que instituiu e autorizou a família. Considere o fato de que Deus mesmo se revela como o nosso Pai (Mt 6.9)]. “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”, Francisco Barbosa Campina Grande-PB Fevereiro de 2015 PARA REFLETIR Sobre honrar o pai e a mãe: Como os filhos devem honrá-los? Devotando-lhes todo o respeito, a atenção e a obediência devida. Qual é o dever dos filhos para com os seus pais na velhice? Cuidar dos pais em tudo o que for necessário. O Evangelho exige que os filhos deixem de cuidar dos pais para dar dinheiro à obra de Deus? Não! Essa era a desculpa das autoridades religiosas de Israel para não assistirem os pais na velhice. Os filhos não podem desacatar os pais (cf. Ef 6.1-3). Por quê? Porque as Escrituras colocam os pais em posição de honra. Os pais podem despertar a ira nos filhos (cf. Ef 6.4)? Não. As Escrituras orientam aos pais a não despertarem a ira nos filhos. NOTAS BIBLIOGRÁFICAS Revista Lições Bíblicas Mestre - 1º Trim./2015 - CPAD Tema: "Os Dez Mandamentos" - Os Valores Divinos para uma Sociedade e Constante Mudança Comentário: Pr. Esequias Soares Consultores Doutrinários e Teológicos: Pr. Antonio Gilberto e Pr. Claudionor de Andrade
"...O PROXIMO TRIMESTRE DE 2015 DA EBD SERÁ UMA BENÇÃO: ESTAREMOS APRENDENDO MAIS SOBRE NOSSO SENHOR E SALVADOR JESUS, À LUZ DO EVANGELHO DE LUCAS; COMENTADA PELO Pr. JOSÉ GONÇALVES,AD DO PIAUÍ ". (eis aí a capa da proxima revista)
...é só aguardar,aproveitar e estudar !!!
A INTEGRIDADE EXEGÉTICA DE C.H. SPURGEON AO INTERPRETAR 1 TIMÓTEO 2.3,4 -
“Meu amor pela coerência com meus conceitos doutrinários não é suficientemente grande para me permitir alterar conscientemente um único texto das Escrituras. Tenho grande respeito pela ortodoxia, porém a minha reverência pela inspiração é muito maior. Prefiro cem vezes ou mais parecer incoerente comigo mesmo a ser incoerente com a Palavra de Deus”.[1] (C. H. Spurgeon) Na tentativa de defender que o amor de Deus por todos os homens, na realidade é amor apenas pelos eleitos incondicionalmente, alguns calvinistas acabam distorcendo ou forçando o sentido das Escrituras. Observemos a integridade exegética do grande pregador calvinista C.H. Spurgeon ao tratar de 1 Timóteo 2.3, 4: “E então? Tentaremos substituir por outro o sentido que o texto apresenta com tanta clareza? Nem pensar! Vocês, muitos de vocês, conhecem bem o método geral pelo qual os nossos velhos amigos calvinistas tratam este texto. “Todos os homens”, dizem eles – “isto é, alguns homens”; como se o Espírito Santo não fosse capaz de dizer “alguns homens”, se quisesse dizer alguns homens. “Todos os homens”, dizem eles; “isto é, alguns de todos os tipos de homens”; como se o Senhor não pudesse dizer “Todos os tipos de homens”, se Ele quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu “todos os homens” e, inquestionavelmente, Ele que dizer todos os homens.” [2] Ao comentar em como o texto de 1 Timóteo 2.3,4 se concilia com a crença calvinista na eleição incondicional, que afirma que Deus determinou que apenas alguns homens serão salvos, em sua sinceridade Spurgeon afirma: “Ele tem uma bondade infinita que, não obstante, não é levada a efeito em todos os pontos por Sua onipotência infinita; e se alguém me perguntar por que Ele não o faz, não saberei responder. [...] dou graças a Deus por mil e uma coisas que não posso entender. [...] Aí está o texto, e eu acredito que é desejo do meu Pai que “todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade”. Mas sei também que Ele não quer isso, de modo que não salvará nenhum deles, a não ser que eles creiam em Seu Filho amado; pois Ele nos disse repetidamente que não o fará. [...] Se eu continuar contando a vocês o que eu não sei, e tudo o que de fato sei, garanto que as coisas que não sei são muito mais que as que sei, na proporção de cem para uma.” [3] Como a minha ênfase aqui é no entendimento do sentido de “todos os homens” em 1 Timóteo 2.3,4 conforme Spurgeon, concluo dizendo que o príncipe dos pregadores segue a interpretação arminiana do referido texto, ou seja, de que o texto afirma categoricamente que Deus deseja a salvação de “todos os homens”. E por qual razão ele não os salva? Entendo que é pelo fato de Deus está comprometido com algo mais elevado, que é a liberdade humana de poder aceitá-lo, amá-lo e de com ele se relacionar. É claro que o exercício de tal liberdade depende da ação da graça preveniente de Deus, que capacita a vontade humana libertando-a do poder do pecado, sem, contudo mudar arbitrariamente esta vontade (trata-se de mudança de condição da vontade, em vez de mudança de direção da vontade), nem arrastando-a irresistivelmente para si. É dessa forma que a soberania de Deus na aplicação da salvação se concilia com o exercício da liberdade humana na aceitação da salvação (At 2.37-41). E como isso tudo é possível? Sigo Spurgeon ao afirmar “não sei”, pois o que sei é que para Deus nada é impossível (Lc 1.37), e que tal entendimento é coerente com as Sagradas Escrituras! [1] MURRAY, Iain H. Spurgeon versus Hipercalvinismo: a batalha pela pregação do Evangelho. São Paulo: PES, 2006, p. 172. [2] Ibid., p. 171, 172. [3] Ibid., p. 173-176. Postado por ALTAIR GERMANO
OS DESIGREJADOS -(Texto extraído do livro: Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito)
Em 2013 a editora Vozes lançou o livro Religiões Em Movimento – o censo de 2010. O livro, que conta com a participação de vários especialistas, se propõe fazer uma leitura analítica dos dados do último Censo do IBGE de 2010. A obra contou com as participações do teólogo e pesquisador do CNPq Faustino Teixeira e da antropóloga Renata Menezes como organizadores. Até o presente momento considero essa obra literária a melhor interpretação dos dados do Censo de 2010. O livro, portanto, analisa a presença do fenômeno religioso em solo brasileiro e como o mesmo tem se comportado ao longo dos anos. Dentro desse contexto os pesquisadores observaram que os números revelaram o declínio da religião tradicional; a consolidação das novas tendências no universo da fé; o decréscimo do catolicismo e dos “evangélicos de missão”, esta última expressão usada para se referir às igrejas protestantes tradicionais; o fenômeno do pentecostalismo com as suas diferentes matizes incluindo as igrejas pertencentes ao pentecostalismo clássico e ao neopentecostalismo. Dentro da vertente pentecostal clássica ou histórica observou-se o crescimento isolado das Assembleias de Deus e o declínio das igrejas neopentecostais, tais como Universal do Reino de Deus e Evangelho Quadrangular. O “boom” evangélico! Faustino Teixeira põe em destaque o que ele denomina de crescimento evidente dos evangélicos. Nas últimas décadas esse crescimento teve um salto de 6.6% em 1980 para 22,2 % da população geral em 2010. Numa população brasileira de 190.755.799 milhões de habitantes, os evangélicos somam 42.275.440. Faustino observa ainda que esse crescimento não ocorreu entre os evangélicos de missão (igrejas tradicionais), que permanecem estacionados no percentual de 4%, mas sobretudo aos pentecostais que, segundo os números, correspondem a 13.3 % da população brasileira, o que perfaz um total de 25.370.484 milhões de fiéis. Isso significa que nos últimos dez anos cerca de 4.408 novos crentes foram acrescidos por dia ao arraial evangélico; entre os pentecostais o número de adesões diárias sobe para 2.124, sendo que as Assembleias de Deus receberam diariamente em suas fileiras 1.067 novas pessoas.[i] Os números referentes ao crescimento dos evangélicos são de fato impressionantes! Por outro lado, os analistas se depararam com um fenômeno até então não detectado nos dados do IBGE – a presença de uma nova categoria de evangélicos, rotulada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de “Evangélica não determinada”. É exatamente a existência dessa nova categoria que mais tem intrigado os pesquisadores. Quem são? O que os números dizem sobre ela? Faustino Teixeira comenta: “A dificuldade de precisão analítica na apreensão correta dos dados sobre os evangélicos deve-se, em parte, ao significativo número de fiéis evangélicos classificados na categoria de “evangélicos não determinados”. Nada menos do que 9.2 milhões de pessoas, perfazendo 21,8 % de todo o contingente evangélico, num patamar que envolve 5% de toda a população brasileira. Alguns analistas os identificam como “evangélicos genéricos” ou “evangélicos sem igreja”, indicando a afirmação de uma diversidade interna no campo evangélico, seja mediante caminhos diversificados de assunção da pertença evangélica, seja o exercício de crença fora das instituições, ou na múltipla pertença evangélica”.[ii] Evangélicos não determinados O antropólogo e professor de pós-graduação da UFJF Marcelo Ayres Camurça também fez uma análise sobre a nova configuração religiosa no Brasil a partir dos dados do Censo de 2010. No capítulo intitulado de: O Brasil religioso que emerge do Censo de 2010: consolidações, tendência e perplexidades, comenta sobre esse aparecimento do que ele considera como um fenômeno dentro do universo evangélico, o expressivo contingente de evangélicos não determinados. Como já foi sublinhado essa nova categoria, em termos percentuais, já é superior aos evangélicos tradicionais e somam um número de 9.2 milhões de pessoas. Pois bem, Camurça analisa as implicações que esses números têm dentro do arraial evangélico. Ele diz: “Um fenômeno novo que veio a ser detectado nesse Censo foi a declaração recorrente de um segmento da população que passa se identificar apenas como “evangélica”, saindo de 1,7 milhão, que correspondia a 1% dos evangélicos, no Censo de 2000 para 9.2 milhões, ou seja, 4,8% no Censo atual, fenômeno que a classificação do IBGE denomina “evangélico não determinado”. Do total do grupo evangélico, 22,2%, este seguimento já ultrapassa os “evangélicos de missão” (na classificação do IBGE identificando as igrejas protestantes históricas) com 4,8% em relação aos 4,0% dos últimos, superado apenas pelos pentecostais com 13,3%. Uma linha de interpretação associou este tipo a uma “parcela não praticante” no grupo evangélico, uma característica de religião estabelecida e de maioria, que, no tipo de dinâmica descrita por Paul Freston, aparece “quando uma religião cresce e fica parecida com a sociedade na qual está inserida”, o que nos evoca a categoria “igreja” em oposição a “seita” na tipologia de Ernst Troelstch. Na análise do sociólogo Ricardo Mariano, especialista numa sociologia do protestantismo e do pentecostalismo, o crescimento deste tipo no meio evangélico representa um indicador de “privatização religiosa”, ou seja, o desenvolvimento de uma crença evangélica “por fora das instituições”, com a consequente diminuição do “compromisso religioso” e a assunção da “autonomia” e “individualismo” (Folha de São Paulo, 30/06/2012). Aqui, uma contaminação no meio evangélico da tendência (pós-) moderna da desfiliação religiosa e religião do self. Embora Mariano tenha falado em diminuição do compromisso religioso, penso isto significar mais o fim da pertença exclusiva do que a tendência a uma vinculação apenas nominal a uma religião que vai se tornando majoritária. Isto porque este evangélico genérico desenvolve uma atividade intensa e uma mobilização em torno de um estoque variado de opções que o universo evangélico – agora transmutado em “mercado de bens simbólicos” evangélicos de estilo moderno – oferece. Este novo evangélico geral se coloca na contramão da cultura histórica do denominacionalismo que caracterizou o protestantismo histórico.” [iii] Desinstitucionalização Por outro lado, o antropólogo e professor da UFMG, Pierri Sanchis vê o fenômeno dos evangélicos genéricos, não determinados ou desigrejados como sendo uma consequência da desinstitucionalização crescente. Ele destaca que as estruturas sólidas que fundavam, enquadravam, regulavam o universo das experiências religiosas, conferindo-lhes distinção, identidade e conteúdo, não o fazem mais com o mesmo rigor, e até quando se reafirmam com renovado vigor, não o fazem com a mesma abrangência. Nesse aspecto ele observa que as instituições religiosas sofrerão cada vez mais com falta de identidade de seus fiéis para com elas. Mesmo que a identidade religiosa permaneça, todavia os seus significados e conteúdos se amoldarão à nova realidade.[iv] Em 2012 escrevi em meu livro Prosperidade À Luz Da Bíblia sobre a existência desses crentes migratórios. Destaquei que as bênçãos de Deus, quer seja de prosperidade ou saúde, acontecem dentro da esfera da igreja local. Os Institutos de Pesquisas têm detectado um fenômeno entre os evangélicos brasileiros – a existência de uma geração de crentes migratórios. Esses novos evangélicos não firmam raiz com igreja alguma, mas vivem sempre a se lançar à caça de uma nova igreja que lhe garanta uma bênção sem muito esforço. Esse entendimento é fundamentado numa falsa compreensão do que seja servir a Deus. Nesses casos o crente acredita que a sua participação em uma das dezenas de corrente de prosperidade ou o cumprimento de certos rituais exigidos lhe garantirão o favor de Deus sobre a sua vida. O relacionamento com Deus e o vínculo com uma comunidade local é totalmente esquecido. Para essas pessoas, muitas vezes, o problema está com as igrejas que mal frequentam e não com eles mesmos.[v] Office-boy Em 2004 a revista Superinteressante, periódico da editora Abril, trouxe uma ampla matéria sobre o crescimento dos evangélicos no Brasil. A revista destacava naquela época que um em cada seis brasileiros pertenciam a alguma denominação evangélica. Todavia a matéria chamava a atenção para o perfil desses novos crentes. “Para resumir, o neopentecostalismo quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho Carioca podem agora se considerar “crentes”. Para isso, algumas adaptações aconteceram: saem os homens de terno e as mulheres de pelos nas pernas, entram pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta. A primeira inovação foi riscar do mapa o ascetismo, o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o Paraiso. “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil”. [vi] Sem sal Citando o escritor Paulo Romeiro, destacado cientista da religião, a Revista chamava a atenção para as consequências que essa nova teologia gerava nos conversos. “A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy. O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior.” A revista destacou as igrejas Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra e Internacional de Deus como as principais representantes desse seguimento. Essa “nova teologia” acabou por diluir a identidade historicamente construída pelos evangélicos no mundo. A reportagem entrevistou o pastor Joaquim Andrade, pesquisador da AGIR – Agencia de Informações da Religião. De acordo com Andrade há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais, e até os protestantes históricos passaram aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas sobrenaturais. Concluindo a matéria, quase que em um tom profético, a Superinteressante destacou: “Um indicio de que a conversão do mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fieis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do País – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as ideias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes”.[vii] (Grifos meus). É lastimável, mas é a verdade! A graça barata! Não há dúvidas que há um “boom” no crescimento evangélico! Mas esse não é um crescimento sadio, mas um crescimento com inchaços! Na verdade os números revelam mais um inchamento do que um crescimento de fato. Como observou a matéria da Superinteressante, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país. O que há errado, então, com essa explosão da população evangélica? Escrevi em um outro texto que o verdadeiro evangelho tem custo! A salvação é de graça, mas o discipulado custa caro! Dietrich Bonhoeffer, mártir alemão durante a segunda guerra mundial, escreveu que: “a graça barata é a inimiga mortal de nossa Igreja. A nossa luta trava-se hoje em torno da graça preciosa. Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, sacramento malbaratado; é graça como inesgotável tesouro da Igreja, distribuído diariamente com mãos levianas, sem pensar e sem limites; a graça sem preço, sem custo (...) graça barata significa justificação do pecado, e não do pecador; é a pregação do perdão sem o arrependimento”.[viii] A razão, portanto, da existência de tantos desigrejados, cristãos indeterminados ou genéricos, está na ausência de um discipulado bíblico que permitisse esses crentes terem um crescimento natural e sadio. São cristãos que não estabeleceram vínculo nenhum com a igreja local e pouco ou quase nada sabem sobre o senhorio de Jesus. Um programa de discipulado bíblico, nos moldes do recrutamento que Jesus fez com seus discípulos, precisa levar em conta alguns princípios. No evangelho de Lucas vemos como isso se deu. Primeiramente observamos que o Mestre serviu de modelo aos seus liderados, além do fato de os moldar de acordo com seus ensinos! Dentro desse processo observamos em segundo lugar, que o chamado ao discipulado não acontece de qualquer forma, mas há métodos que devem ser seguidos e custos que devem ser avaliados. Em terceiro lugar, uma atenção especial deve ser dada ao treinamento desses discípulos, o que exige uma mudança de cosmovisão e também de valores. Por último o envio em uma missão especifica, que consiste em pregar os valores do Reino de Deus e curar uma sociedade que se encontra doente. Um discípulo, é portanto, alguém que é capaz de reproduzir aquilo que aprendeu. O discipulado de Jesus Em sua exaustiva obra: Um Judeu Marginal – repensando o Jesus histórico, o escritor John P. Meier põe em relevo o discipulado de Jesus. “O Jesus adulto surge pela primeira vez quando se junta a determinado grupo escatológico, caracterizado pelo batismo e arrependimento, chefiado por um estranho individuo chamado João Batista. Arrebatando alguns indivíduos desse grupo, Jesus logo seguiu seu próprio caminho com uma nova mensagem do iminente, e no entanto presente, reino de Deus, mensagem essa dirigida a todo Israel. Indo de cidade em cidade em um ministério itinerante, Jesus atraiu círculos mais próximos e mais afastados de seguidores entre seus correligionários judeus... Participou de debates religiosos com outros judeus devotos e tomou a liberdade de ensinar a seus correligionários como a Lei mosaica devia ser seguida corretamente. Em seu próprio círculo ensinava a seus discípulos formas especiais de orações, observâncias e crenças que os caracterizavam como um grupo distinto dentro do judaísmo da Palestina no século I”.[ix] Lucas registra: “Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe: 26 Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo. 28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? 29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, 30 dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? 32 De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores e pede condições de paz. 33 Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. 34 Bom é o sal, mas, se ele degenerar, com que se adubará? 35 Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça” (Lc 14.25-35). O custo do discipulado No texto: A Educação No Antigo Israel E No Tempo de Jesus encontramos uma excelente exposição sobre o processo do chamado de Jesus. O texto põe em evidência alguns desses princípios. É dada atenção para o fato de que o chamado de Jesus não é algo que vem pronto e acabado, mas se constrói através de repetidas idas e vindas, de avanços e recuos. Tem início na beira do mar da Galileia (Mc 1.16), e termina com a ascensão (Mt 28.18-20). Depois da ressurreição começa de novo à beira do mesmo lago (Jo 21.2-17). É um recomeçar sempre! [x] O recrutamento A forma como Jesus chama as pessoas é bastante simples e variada. Muitas vezes Jesus toma iniciativa no chamado. Ele vê as pessoas e as chama (Mc 1.16-20). Mas em outros casos este chamado se dá através da rede de entrelaçamento familiar quando um membro da família conduz algum parente e amigo até Jesus (Jo 1.40-42; 45-46). João, o batista, também tem participação nesse chamado quando orienta seus discípulos a seguir o Mestre (Jo 1.35-39). Em outros casos as pessoas decidem espontaneamente para seguir Jesus (Lc 9.57-58; 61,62).[xi] A natureza do chamado Uma outra coisa posta em destaque diz respeito à natureza do chamado de Jesus. Esse chamado é de graça e não tem nenhum custo a mais. Todavia o grau de compromisso dessa decisão é muito alto. Jesus não engana ninguém nem camufla as implicações envolvidas no seu chamado. É um chamado que deve ser aceito de forma consciente por aquele que o abraça (Mc 1.15). Nesse aspecto o chamado é começar tudo de novo (Jo 3.3-8). O compromisso com o Reino e o chamado deve estar acima de qualquer vínculo familiar (Lc 9.60). Quem o acolheu não pode mais voltar atrás (Lc 9.62). É uma pérola preciosa e quem a achou deve se desprender de tudo para tê-la. Enfim quem O aceita deve se desprender de tudo para se dedicar a Ele (Mt 13.44-46). O perfil dos chamados É interessante também o perfil dos chamados por Jesus. Figueira e Junqueira põe em evidência esses perfis. Eram humanos, limitados e imperfeitos. Os exemplos: Pedro - era generoso e entusiasta (Mc 14.29,31), mas, na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e ele voltava atrás (Mt 14.30; Mc 14.66-72). Tiago e João - estavam dispostos a sofrer por Jesus (Mc 10.39), mas queriam ter mais poder que os outros (Mc 10.35-41), e eram temperamentais (Lc 9.54). Jesus deu-lhes o apelido de “filhos do trovão” (Mc 3.17). Filipe - tinha muito jeito para colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1.45-46), mas não era prático em resolver os problemas (Jo 6.5-7; 12.20-22). Jesus certa vez o censurou (Jo 14.8-9). Natanael - era bairrista (Jo 1.46), mas diante da evidencia reconhece que Jesus é o Messias (Jo 1.49). André – era mais prático. Foi ele que encontrou o menino com cinco pães e dois peixes (Jo 6.8-9. Tomé - era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11.16). Mas também era cabeçudo e teimoso, capaz de sustentar a sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20.24-25). Mateus – era publicano e como tal era excluído da religião judaica. Simão – era Cananeu ou Zelote (Mc 3.18). Fazia parte de um partido dos zelotes que se opunha ao governo romano. Judas – guardava o dinheiro do grupo (Jo 12.6; 13.29). Joana – era esposa de Cusa, procurador de Herodes, que governava a Galileia. Junto com Susana e outras mulheres, ela seguia a Jesus e o servia com seus bens (Lc 8.2-3). Maria Madalena – era nascida na cidade de Magdala. Jesus libertou-a de sete demônios (Lc 8.2). Marta e Maria – eram irmãs, que junto com Lázaro, o irmão delas, viviam em Betânia, perto de Jerusalém (Jo 11.1). Nicodemos – Era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época.[xii] As dimensões do chamado Ainda segundo o pensamento desses autores o discipulado de Jesus possui três dimensões: · Tomar o Mestre como Exemplo Jesus se torna o referencial na vida do discípulo (Jo 13.13-15). · Ter participação na cruz Seguir Jesus estava muito longe de algo meramente teórico. Seguir Jesus era sofrer com ele, era participar de suas provações (Lc 22.28) e perseguições (Jo 15.20; Mt 10.24-25). Era se sujeitar a viver sob o peso da cruz e até mesmo morrer com Jesus (Mc 8.34-35; Jo 11.16). · Viver a vida de Jesus Essa nova dimensão vem logo após a ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo. Seus discípulos estão convictos que Jesus vive neles através do Espírito Santo: “Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2.20). Como seus seguidores, cheios do Espírito, e com a presença de Jesus no meio deles, agora continuam a obra que Jesus começou entre eles. Se entregam totalmente à palavra de Deus e à oração.[xiii] Marta e Maria Esse discipulado de Jesus fica em destaque nas vidas de Marta e Maria. Há algumas lições que podemos extrair desse relato. “E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude. 41 E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, 42 mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (Lc 10.38-42). A forma como o Senhor discipula Marta e Maria, conforme mostra essa narrativa, é de fato muito interessante. Observamos que: 1. É possível hospedar Jesus e ainda assim não possuir nenhum relacionamento com ele – “Recebeu (hospedou) em sua casa” (v.38). Não basta ter Jesus como hospede, é necessário que ele habite na casa. Um dos problemas graves do discipulado contemporâneo é que ele não consegue firmar vínculo com Jesus. Jesus não é o dono nem tampouco o Senhor da casa, mas um mero hóspede. A palavra grega upodechomai, traduzida como “recebeu” ou “hospedou”, possui o sentido de “receber como um convidado”. Não é um residente. Uma vida transformada necessita ter Jesus como residente nela e não apenas como um convidado. 2. É possível se possuir algum parentesco com alguém piedoso e mesmo assim não ter uma vida piedosa – “E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra” (v.39). Marta era irmã de Maria. Maria era uma crente piedosa que queria sempre aprender aos pés do Mestre. Por outro lado, Marta não era tão piedosa quanto a irmã. Não tenho dúvidas que o fracasso do discipulado reside no fato de muitos cristãos possuírem apenas uma fé nominal. Frequentam uma igreja, pertencem a alguma comunidade evangélica, mas não conseguem levar uma vida devocional genuinamente cristã. Vivem sempre à margem da fé. Aproximam-se mais do mundo do que do evangelho. 3. É possível ter orelhas para escutar e mesmo assim não ouvir o que o Senhor está dizendo – “Maria...ouvia a Palavra” (v.39). Maria ficava ao lado do Senhor para melhor ouvir os seus ensinamentos, mas Marta não tinha tempo para isso. A verdadeira adoração não ignora a obrigação nem tampouco esquece a devoção. O trabalhador não deve esquecer que também é um adorador. 4. É possível estar tão ocupado que até mesmo Deus passa a ser um problema – “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só?” (v.40). Se não podemos afirmar que Marta quis culpar ao Senhor pela falta de cooperação de Maria, no mínimo ela achava que Maria não estava usando corretamente o seu tempo naquela ocasião. Jesus ali aparece como um problema para Marta. Marta acha que é Ele quem interrompe os afazeres domésticos de Maria, sua irmã. Quando nos envolvemos demais com as coisas dessa vida, até mesmo Deus ou a igreja passam a ser um peso para nós. 5. É possível estar à sombra do Evangelho e mesmo assim possuir valores invertidos – “respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (v.41.42). O problema com Marta foi que ela inverteu as coisas. Pôs suas prioridades em primeiro lugar e não encontrou espaço para as coisas de Deus. Os valores ficaram invertidos. É o uso da lógica inversa àquela do reino de Deus. “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Quando Deus se torna o primeiro, jamais vamos ser os últimos. [i] TEIXEIRA, Faustino. Religiões Em Movimento – o Censo de 2010. [ii] TEIXEIRA, Faustino. Op.cit. [iii] CAMURÇA, Marcelo Ayres. In Religiões Em Movimento – o Censo de 2010, p.75. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2013. [iv] SANCHIS, Pierre. Religiões Em Movimento – O Censo de 2010. [v] GONÇALVES, José. A Prosperidade à Luz da Bíblia. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 2012. [vi] GWERCMAN, Sérgio. In Superinteressante – as 25 reportagens mais surpreendentes, polemicas e curiosas dos 25 anos da Revisa. Editora Abril, São Paulo, SP, 2013. [vii]Superinteressante – as 25 reportagens mais surpreendentes, polêmicas e curiosas dos 25 anos da Revista. Editor Abril, p 112. [viii] BONHOFFER, Dietrich. Discipulado. Editora Sinodal, 2004. [ix] MEIER, John P. Um Judeu Marginal – repensando o Jesus histórico, volume três, livro 1 - companheiros. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2003. [x] FIGUEIRA, Eulálio & JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação – Educar para a caridade e a solidariedade. Ed. Paulinas, São Paulo, 2012. [xi] Idem. [xii] FIGUEIRA, Eulálio & JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação. Op. Cit. [xiii] FIGUEIRA, Eulálio e JUNQUEIRA, Sérgio. Teologia e Educação. Op.cit.